A característica marcante do PT, e isso não é novidade pra ninguém, é a prática constante de promover reuniões para debater tudo e a todo instante. Outra característica petista, distinta dos partidos de esquerda ortodoxos, é a forma com que a militância decide seus problemas. É público e notório que o PT abomina o “centralismo democrático”, que por mais boa intenção que teve quando do seu surgimento, lá pelos idos dos anos 20 do século passado, ao longo dos anos, descambou para a mais sórdida ditadura de um único partido sob o povo e à Nação. O PT elaborou e pratica o “consenso progressivo”, quando a militância debate internamente os seus assuntos até a exaustão e, se não há mais jeito de se chegar ao consenso, vota-se a questão. Depois de decidido, o PT adota a resolução como prática.
A esmagadora maioria dos militantes petistas aceitam, porque concordam, com essas teses. Mas há uma ínfima minoria que, persistentemente, prefere debater assuntos internos pela imprensa. Seria engraçado, não fosse realidade: são os mesmos que batem no peito para espinafrar a imprensa e chamá-la de “burguesa”, quando convém. Porque, às vezes, quando perdem o debate interno ou, simplesmente, o orgulho e a vaidade o impedem de aceitar sugestões, por mais pertinentes que sejam, recorrem às páginas do PIG (como gostam de se referir à parte da imprensa) para continuar o debate.
Essa não é a minha prática. Sempre que me deparo com um absurdo desses, denuncio e, para variar, pauto a discussão no Diretório Municipal do Partido, onde já exerci, honradamente, cargo de direção. Não vou publicar outro artigo nos jornais e cair na armadilha proposta. Ficarei restrito ao meu blog. Mas, como gosto do bom debate e espero me fazer entender, aqui vão as minhas considerações.
Há alguns dias, o coordenador do setorial de Segurança Alimentar do PT, Ronaldo Gonzales, escreveu um artigo para ser publicado no site do PT sobre o “julgamento do mensalão no STF”. Antes que fosse publicado, detectei alguns ‘senões’ no texto, que mereciam reparos. Algo que colaboraria para melhorar a sua compreensão e dirimir algumas lacunas não preenchidas pelo raciocínio que o texto enseja.
Escrevemos ao autor sobre os reparos. No entanto, a grosseria da resposta nos forçou a uma conversa com o presidente do Partido, o companheiro Luiz Turco. Em nossa opinião, se não houvessem tais reparos, o texto, além de incompreensível, poderia dar margens a interpretações errôneas. Acertadamente, nosso presidente, pediu que segurássemos o texto, para que ele conversasse com o companheiro Gonzales.
Eis que, hoje, ao abrir o jornal Diário do Grande ABC, leio estarrecido o artigo do companheiro publicado. Há algumas alterações de estilo. Mas, o essencial não foi modificado. Compreendo o que o companheiro quis dizer, mas a forma com que ele desenvolve o texto, fica a dúvida sobre o quê o companheiro entende por “mensalão”.
O que, de fato, o companheiro acredita? Que o Partido comprou parlamentares para que votassem a favor das propostas do governo? Ou fez caixa 2? Em sendo a primeira tese, em quê a reforma do Partido ajudaria? Concorda, então, o companheiro Gonzales, que o ex-deputado federal, Professor Luizínho, fundador do PT de Santo André, líder do governo Lula, que arquitetou a vinda da Universidade Federal do ABC e militante de longas e árduas batalhas, vendeu-se ao esquema do mensalão?
Concordo com o texto, quando diz que o Brasil precisa aprovar, urgentemente, uma reforma política que acabe com a possibilidade dos partidos fazer o caixa 2. E que as propostas de reforma estatutária do PT devem ser postas em prática o quanto antes. E concordo também que o PT tem capacidade de se repensar e de se reconstruir a cada momento histórico. Não posso concordar com prepotência e a arrogância de não perceber o quando um alguém pode se tornar ridículo ao recusar-se a aceitar reparos, por mínimo que seja, em seu raciocínio. Uma pena.
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